sábado, 10 de outubro de 2015

Prazer, o meu nome é...

Certa vez, fui convidado a participar do quadro de funcionários de uma prestigiada empresa em São Paulo. Minha missão era melhorar o fluxo de informações e alcançar a excelência na comunicação interna e externa. Recebi o convite de braços abertos, pois estava ansioso para iniciar o trabalho que se mostrava árduo, mas prazeroso. Eu precisava liderar não uma ou algumas pessoas, mas todos os colaboradores da companhia e, acima de tudo, a maioria dos processos existentes ali.

Logo quando assumi minhas atividades, percebi que o trabalho seria bem mais difícil do que imaginei. Isso porque ninguém acreditava em quem eu era. Quando me apresentavam, riam disfarçadamente; eu passava pelos corredores e notava que as pessoas cochichavam sobre mim, e o pior, circulava um boato de que eu era um usurpador. Era quase impossível acreditar que aquilo estava acontecendo. Fiquei deprimido, chorei várias noites na minha cama. Quando me perguntavam o que estava ocorrendo, respondia que não era nada de grave, mas tratava-se de uma verdadeira crise - uma crise de identidade.

Comecei então a concentrar os meus esforços naquilo e descobri coisas terríveis, começando pelo fato de que praticamente todos ali tinham uma imagem sobre mim totalmente distorcida, pois me viam como um arrogante, sem perspectiva alguma de vida. Diziam que eu era mais feio; chegavam ao ponto de achar que eu era deformado. E para piorar ainda mais, esse não era um pensamento exclusivo dos trabalhadores mais humildes, muito pelo contrário, vários líderes, gerentes e até alguns diretores pensavam o mesmo. A minha autoestima já estava no chão com tudo isso, mas as coisas ficaram ainda piores quando descobri que a organização valorizava mais os estrangeiros. Cobrava-se pouco conhecimento sobre mim, sobre minha história, minha cultura e minha importância, contudo exigiam saberes profundos sobre outros que vinham de diversas partes do mundo, principalmente dos Estados Unidos.

Um dia, quando cheguei à empresa, esbarrei em um gringo. Ele, muito simpático, veio me cumprimentar e se apresentou como English. Disse que seu trabalho ali era de proporcionar uma comunicação mais eficaz com o restante do mundo e fazer com que todos se adequassem à globalização. Em seguida me apresentei, disse que o meu nome era Português, mas que já estava quase mudando para Portuguese, pois poucos me valorizavam da forma como eu era. Contrataram-me talvez por obrigação, mas quase ninguém me via com bons olhos. Olhavam-me torto e quando eu apresentava alguma coisa que estava ocorrendo de forma inadequada, contorciam seus narizes e me chamavam de brega, careta. Isso quando não falavam que eu era um impostor, pois o Português que eles conheceram a vida inteira era um almofadinha, alguém de frescuras que não servia para absolutamente nada, alguém que quase sempre foi digno de zombaria.

Quando terminei de falar, English me deu um forte abraço e disse para eu não me preocupar, porque isso sempre acontecia. O valor geralmente é dado aos de fora e se esquecem daqueles que lhes ajudaram a crescer e a se desenvolver. E ainda me ofereceu toda a ajuda necessária para reverter aquele quadro que, segundo ele, era culpa de uma política pessoal feita a longo prazo. Logo, os primeiros frutos dessa parceria começaram a aparecer e todos que entravam na empresa, além de falar inglês fluente, precisavam ter destreza no português; e quem já trabalhava lá, mas não respeitava o meu padrão, precisou estudar e se aperfeiçoar muito para não se desviar das minhas normas.

Passado um ano e com o fim desse trabalho chegando, senti-me muito feliz, realizado e profundamente emocionado ao ver as mudanças que ocorreram durante aquele curto período. Percebi que, na realidade, não podemos excluir nada e nem ninguém, precisamos andar sempre juntos. Hoje, eu e meu amigo English temos uma parceria firmada: onde um for, o outro também vai. Parceria de tanto sucesso que outros profissionais, como o Español, já nos procuraram para aderir a ela.
Os resultados que obtive naquela empresa foram realmente muito bons, todavia preciso me esforçar muito para alcançar o restante das pessoas do Brasil. Muitas dessas possuem uma visão sobre mim ainda pior do que a que eu tive o desprazer de ouvir, mas acima de tudo precisam me conhecer de verdade para poderem ao menos pensar em melhorar um pouco suas condições de vida.

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